50-Considerações sobre a Túnica Azul na Raiz

Considerações sobre o uso da Túnica Azul na Raiz de Guiné

 

 Rio de Janeiro, 01 de dezembro de 2017

 

Chico Xavier como sabemos, comumente andava bem vestido, com belos ternos, quer fosse nas suas reuniões espirituais nos diversos centros espíritas pelos quais frequentou, quer fosse, digamos assim, nos diversos contatos sociais que ele teve em sua ampla rede de atividades humanas. Eis a questão: devemos comparar Chico Xavier com políticos e empresários corruptos tão simplesmente pela semelhança da vestimenta?

 

 

É necessário que se faça algumas considerações sobre a questão do uso da túnica azul na Raiz de Guiné, a qual se tornou por demais polêmica, com discussões por vezes pautadas por visões radicais e muitas vezes, com base em julgamentos apressados e descontextualizados de uma aferição histórica mais profunda da vida e das obras iniciáticas do velho Matta e Silva. Portanto, aqui levantamos alguns pontos de discussão, mas não tão simplesmente com fundamentações rasas em opiniões de cunho pessoal no que achamos ou deixamos de achar, pois esta questão, bem como outras que se relacionam com a chamada Raiz de Guiné, são bem maiores do que nosso desprezível eu, isso existe antes dele e, isso, se faz presente quer o nosso eu esteja aqui ou não para falar sobre elas...

 

Assim, falaremos com base em fatos, que são de certa forma corriqueiros para aqueles que fizeram parte da antiga TUO em Itacurussá e, muito especialmente, sobre realidades que que se deram na história da minha própria família nas areias da antiga e extinta TUO. Minha avó materna, Marlene Leo Gouvêa, após o falecimento do saudoso Capitão Benedito Lauro do Nascimento (que fora coroado por Pai Guiné D´Angola através de Matta e Silva e que dirigiu por décadas a Tenda Espírita Estrela do Mar em Irajá no RJ -- agô meu Pai Ogum Beira-Mar e Pai Ernesto de Moçambique para falar da sagrada CASA dos Senhores!...), foi juntamente com minha mãe e madrinha para a TUO do velho Matta em Itacuruça no início da década de 80 e lá permaneceram até o desencarne do Matta.

 

 

O velho Matta consagrou minha avó e o Maurício Omena no 5° grau da Lei, com o objetivo especialmente voltado para a retomada da direção de culto da Tenda Estrela do Mar, o que não aconteceu.... Mas, o fato, é que na época, a túnica azul foi recomendada para eles pelo próprio Matta e Silva, por se tratar de uma tradição da Raiz de Guiné. Pois o fato é que o velho Matta usou a mesma até o fim dos seus dias na terra, mas por dentro de certa tônica e de certos princípios espirituais e magísticos (pois o azul na força que vem dos 4 cantos do mundo tem sua razão de ser, em paralelo com os sinais que vão nela) e recomendava a mesma para seus iniciados (DO 5° GRAU EM DIANTE A TÚNICA AZUL ERA RECOMENDADA DE FATO E DE DIREITO PELO MATTA), e, isso pode ser atestado por qualquer um que tenha se inteirado mais de perto das coisas da época de Itacuruça, dentre essas pessoas: meus próprios familiares (mãe, madrinha, avó, pai) e meu irmão Rogério Corrêa que dispõe de contatos com referências seguras sobre tudo isso que estamos dizendo, que, portanto, não é uma simples tese ou opinião, mas, um fato...

 

 

Portanto, o intuito não é de modo algum afrontar quem discorda do uso da túnica azul na Umbanda, este é um direito por demais naturalmente patente para qualquer um fazer o devido uso em suas considerações, apenas acreditamos que devemos evitar certas posições que dão um diagnóstico pronto, absoluto, rígido, autoritário, inflexível e acima de tudo, apressado, sobre certas questões como essa sobre o uso da túnica azul, no sentido de invalidar este uso na história da Raiz de Guiné em suas práticas rito-litúrgicas, no sentido de deslegitimar este uso, de desqualificá-lo juntamente com aqueles que de fato e de direito estão aptos para fazê-lo, de forma natural e desafetada de toda e qualquer pretensão de projeção social.

 

 

Contudo, é por demais óbvio também que especialmente por via da egolatria de muitos “iniciados” e até de “sucessores” diretos do próprio Matta e Silva -- com suas supostas retificações e ratificações --, que o uso não só da túnica azul como de outros utensílios, ferramentas , práticas e concepções rito-litúrgicas foram inegavelmente corrompidos, deturpados e vilipendiados ao bel prazer desses irmãos, perdidos na penumbra da forma em prejuízo do espiritual nas coisas da Umbanda, na escolinha da Raiz, como o velho Matta às vezes se referia....Mas, ai, creio em duas coisas:

 

  1. quem só tem um martelo como ferramenta, irá tratar tudo como prego;
  2. uma faca pode assassinar ou fazer a sua refeição.

 

 

Ou seja, execrar ou abolir a túnica azul ou qualquer outro objeto que assim como ela teve e ainda de fato tem um valor histórico, patenteado outrora pelo próprio Matta e Silva e, validado pelo Astral, tão simplesmente porque este foi usado como ferramenta de status e projeção social por alguns, é sair do caminho do meio preconizado pelo Buda e se pautar por leituras radicais que não solucionam de modo algum essa questão, pois essa atitude radical não justifica que se coloquem todos, que ainda seguem essa tradição dentro de todo um preparo e caminho já percorrido num mesmo saco de incompetência para ser rotulado e desconsiderado, algo neste caso que fez e faz parte da tradição da própria Raiz de Guiné.

 

 

Sabemos pelo Cristo de nossa raça que o problema essencial não é o que entra pela boca mas o que dela sai, assim como nessa questão o problema não é a túnica, mas o coração sobre o qual ela repousa...Enfim, antes de desferirmos a guilhotina nesse assunto, creio que devemos avaliar com cuidado toda essa questão, analisando todos os pontos implicados nela.

 

Ora o que coloquei acima são dados concretos, que podem ser perfeitamente esclarecidos, sobretudo, por meu irmão Rogério Corrêa, que em seus 28 anos de pesquisa e contatos diretos com diversas pessoas (iniciados, mestres de iniciação, consulentes da epoca, etc) que passaram pela antiga TUO em Itacurussa, que foram iniciadas pelo velho Matta, contribuíram para a organização do site umbandadobrasil. 

 

O site, portanto, é uma síntese organizada fundamentalmente com base em dados primários, portanto, com fundamentação histórica, os quais organizam a partir de relatos vivos, a partir de fontes primárias de referências áudiovisuais do próprio Matta e Silva (vide o documentário de Rogério Saganzerla apresentado no site), de reportagens de texto, tanto aqueles escritos pelo próprio Matta quanto de jornais da época, certos fatos ocorridos na sua vida e o seu papel na Umbanda e no movimento umbandista.

Portanto, acredito que as contrapartidas que por ventura surjam em relação ao que foi por mim colocado acima, devam ser feitas da mesma forma: com dados contextualizados. Caso contrário é o achismo de um contra o achismo do outro.

A túnica azul era de fato e de direto recomendada pelo velho Matta e Silva, quando o iniciado era consagrado no quinto grau da lei. 

 

Óbvio que opiniões que por ventura discordem desse encaminhamento devem ser respeitadas.

 

Mas, para se afirmar que o uso da túnica azul na Raiz não pertence a sua escola ou que este está desqualificado na atualidade, deve-se ir muito além de uma ingênua opinião, deve-se apresentar dados, que refutem com segurança o porquê de tal leitura.

 

 

Novamente, venho me desculpar por qualquer desgaste provocado nos irmãos. Mas, se somos seres pensantes e procuramos crescer e evoluir, então, por que nos refutar do diálogo, dos questionamentos, sobretudo, quando somos questionados em certos posicionamentos?

 

 

Me causa estranheza certos irmãos que se colocam publicamente como pontas-de-lança da Umbanda Esotérica, não saberem sobre uma informação que era na época de Itacurussá e ainda é de certa forma, corriqueira na Raiz de Guiné, além de questionar sobre sua veracidade e de querer condenar o uso dessa vestimenta sem conhecimento de causa nas coisas da Raiz. Essa questão do uso da túnica azul a partir da consagração no chamado 5° grau da Lei, sempre foi ensinada e recomendada pelos mestres de iniciação que de fato e de direito preservaram e ainda preservam a tradição arregimentada pelo velho Matta.

 

Santa Paz

 

Tarso Bastos e Rogério Corrêa