51- Relações Karmânicas na Raiz de Guiné

 

Relações Karmânicas na Raiz de Guiné

 

Rio de Janeiro 10 de dezembro de 2017

 

Qual seria o corolário do médium magista na Raiz de Guiné? Qual seria de fato a sua coroa e o que ela representa segundo a ótica do trabalho de Matta e Silva?

Felizmente o próprio Matta e Silva poderá responder sobre essa questão, para daí refletirmos sobre as questões implicadas em suas afirmações.

Minha mãe, Célia Maria Gouvêa foi batizada e iniciada pelo velho Matta em Itacuruça e lá integrou a sua corrente mediúnica até o desencarne dele. Em 1984 minha mãe gravou em fita K7 uma entrevista feita ao Matta pela Baby Garroux e pelo Pai Buby, onde essa questão sobre o conceito e a razão de ser do médium magista e/ou mestre de iniciação foi explanada pelo Matta. Essa entrevista com a permissão da minha mãe foi então publicada no site umbandadobrasil.

A partir do tempo de 12:10 minutos vocês poderão escutar o Matta respondendo sobre essa questão.

Segue o link: https://umbandadobrasil.no.comunidades.net/entrevista-de-matta-e-silva-na-radio-bandeirantes

Transcrevo ipsis litteris o que  Matta e Silva falou sobre esse tema:

“O médium magista tem dois aspectos: (1) aquele que nasce com a coroa, aquele que já foi iniciado em outra encarnação, aquele que já trouxe um acervo de conhecimentos profundos.

Ele apenas vai aflorando. Então, ele tem cobertura espiritual, ele é um médium positivo. Então, as Entidades vão só cobrindo ele de conhecimentos e de recordações.

Então, ele adquire através das recordações e das suas Entidades afins, um tremendo conhecimento sobre Magia e sobre Teurgia, aplicação correta.

Mas, meus irmãos! Eu quando falo em Magia, eu não falo em pipoca, farofa e dendê. Eu falo de Magia de fato. Então, é o médium magista, ele é o mestre de iniciação, só ele pode iniciar corretamente. Então, o médium magista é um aspecto.

(2) Tem aquele outro, que tem predisposições, que tem vontade, que tem conhecimento, e o mestre de iniciação que o prepara, lhe dá cobertura e os conhecimentos necessários para ele ter o seu grau, ok?”

 

Com essas palavras de Matta e Silva vamos levar ainda em consideração uma outra narrativa colocada.

 

Rogério Corrêa em seus 28 anos de andanças e pesquisas nas coisas da Raiz de Guiné, conheceu diversos mestres de iniciação e um deles colocou a seguinte experiência que teve com o velho Matta:

- Este mestre já tendo sido preparado pelo Matta para iniciar outros na Raiz, estava em dúvida a respeito de um filho de fé que acolhera em seu terreiro, precisamente, sobre qual grau dar para este. Ora, este mestre foi consultar o Matta sobre o que fazer nessa questão, já que ele não conseguia chegar à uma definição.

- Matta e Silva simplesmente lhe disse que o grau desse iniciado, antes de qualquer dúvida humana, já estava de antemão conferido pelo Astral Superior, de modo que, se fosse dado por este mestre o 7° grau e o iniciado tivesse somente o 3° ou 4° grau na Lei, iriam prevalecer estes, independentemente deste ter passado por rituais públicos ou velados de consagração e coroação, com tolhas contendo sinais bordados, com oferendas e diplomas assinados e autenticados pela forma humana.

- Da mesma maneira, em contrapartida, se o iniciado fosse de fato um coroado pela Corrente Astral de Umbanda, prevaleceria este grau, ainda que o seu mestre humano lhe conferisse perante os homens o 1°, 2° ou 3° grau na Lei, ou qualquer outro grau abaixo daquele já reconhecido previamente pelo Astral Superior...

Percebam que a questão é muito complexa e que não dá para se apressar em conclusões e julgamentos sem um bom tempo de estudo, vivência, experimentação e de percepção aguda na linha do tempo, todavia, deixando acima de tudo o tempo correr para de fato revelar que: raízes ruins não darão bons frutos e vice-versa...ainda que essas pessoas tenham sido coroadas tão somente com diplomas conferidos aqui embaixo, caso não tiverem uma positiva cobertura astral, de nada adiantará seus títulos, ainda que estes tenham sido "dados" por autênticos mestres de iniciação...

Temos então duas questões relacionadas à iniciação e frisamos aqui, que se trata especificamente da iniciação na escola da Raiz de Guiné, não estar-se-á generalizando, as quais seguem juntas dentro de um delicado equilíbrio em termos de entendimento:

- 1) Uma, diz respeito ao grau ou selo de cobertura que é conferido nos seus diversos graus karmânicos pela Corrente Astral de Umbanda. Isto, somente o Astral pode conferir como mencionado pelo velho Matta no áudio, de modo que essa questão, está acima do médium magista ou mestre de iniciação, seja lá em qual ciclo ele esteja ou afirme que esteja, pois ele é simplesmente um instrumento facilitador do astral e não é insubstituível como muitos acham.

- 2) A outra diz respeito ao papel do mestre de iniciação encarnado no processo de iniciação dos iniciandos. Pois não estamos com isso querendo dizer que não se deva procurar um mestre de iniciação, pois afinal, os mestres na Raiz são preparados para facilitar todo o caminho iniciático e o trabalho do Astral que será feito por intermédio do iniciado.

Portanto, o mestre de iniciação não confere grau, ele na prática confirma o grau astral que já existe de antemão por via do beneplácito dos Tribunais Cármicos, mas, assim o faz, caso ele, o mestre raiz tiver de fato, penetração astral com o conhecimento especializado para isso de fato e de direito.

Portanto, o mestre raiz, NA RAIZ DE GUINÉ, é um agente facilitador da iniciação na Raiz de Guiné no plano físico, ele, nessa realidade nada confere ou dá, ELE É UM INSTRUMENTO DO ASTRAL QUE TÃO SOMENTE CONFIRMA O SELO QUE PELO ASTRAL JÁ FORA DADO ANTES DA ENCARNAÇÃO.

Contudo, dentro da Raiz de Guiné, em função das ligações específicas que se fazem necessárias entre o iniciado e a egregora constituída na tradição da própria Raiz de Guiné, somente um mestre dessa Raiz poderá iniciar outro nesta raiz.

E isso tem o fundamento e a razão de ser, não se trata de invenção nossa.

Isto está relacionado principalmente com duas questões:

1° Com a questão da egregora humana, com repercussão no astral, criada pelos iniciados na Raiz de Guiné;

2° e, atrelada à questão de cima, com os Tribunais Cármicos do Astral onde a Corrente Astral de Umbanda especificamente opera.

 

 1°) Formação de egregora da Raiz de Guiné

Quanto à questão da criação de egregoras humanas e sua repercussão no plano astral, Pai Guiné D´Angola em Lições de Umbanda e Quimbanda na Palavra de um Prêto-Velho na sua 5° edição, fala para o “zi-cerô”, por exemplo, sobre o surgimento de “Doum”, que em conjunto com as estátuas de Cosme e Damião passou a ser também adotada no meio ou movimento umbandista.

Então Pai Guiné reportou que existem várias versões para o surgimento do Doum, mas, que a que ele ensina como sendo a correta é aquela onde:

  1. Doum surgiu a partir de uma lenda, nos primitivos candomblés da Bahia;
  2. Essa lenda foi tomando forma e consistência mental, de modo que se criou uma corrente de pensamentos;
  3. Essas correntes de pensamento foram sendo sistematicamente aglutinadas e integradas, dinamizando-se e estabelecendo-se desse jeito toda uma cultura, que por sua vez, passou a ser criada em torno do dito Doum – ou nele se consubstanciou;
  4. Assim, lenta e seguramente, essa forma mental descrita, passou a ser incorporada na tradição oral desses candomblés, desses cultos nos seus agrupamentos, até os nossos dias;
  5. Dai, foi que todo este movimento mítico sobre Doum configurou uma forma material, simbolizada na menor das três estátuas juntas, ditas Cosme, Damião e Doum.

O que se verifica do ponto de vista esotérico em todo este processo descrito sobre Doum?

Segundo nos ensina Pai Guiné, “o que se plasma embaixo, surge em cima”.

Ou seja: na medida em que surge e de fato passa a ter existência, toda uma corrente de pensamentos de caráter religioso e místico com ampla repercussão fenomênica a respeito de algo, Preto-velho nos ensina, que este algo, se torna uma potência criadora, uma força em movimento, a qual passa a se concretizar através da criação de sentidos, de relações, de símbolos, de práticas e concepções, estabelecendo por seu turno nessa dinâmica, ações e reações cármicas nos destinos de encarnados e desencarnados.

Logo, essa potência, essa força, não pode de modo algum existir como uma “forca cega”, ou aleatória disposta em um movimento incoordenado, sem existir, portanto, uma coordenação cármica superior.

Ou seja, Pai Guiné ensinou que essa “força humano-astral”, dita também por alguns como egregora, necessita pela Lei-Una, de ser ocupada espiritualmente, ou seja: ela precisa ser espiritualmente controlada, frenada e coordenada pela Lei.

Então, essa força simbolizada pela figura de “Doum” passou a ter controladores vibratórios na Lei de Umbanda, que dessa maneira, pela Corrente Astral de Umbanda, passaram a assumir o nome de Doum em sua militância na Umbanda e nas manifestações mediúnicas.

Doum, portanto, estabeleceu-se, assim como outros nomes de guerra na Umbanda que iremos citar, como uma função mágica no sistema da Proto-Síntese Relígio-Científica da Umbanda, tendo em sua estrutura e dinâmica vibracional um entrecruzamento de força para Xangô, sendo nessa dinâmica criada, a dita função operacionalizada na magia pelas entidades da Banda das Crianças, as quais tomaram  este nome de guerra para si (Doum), de modo que, suas forças de trabalho foram conjugadas nas ditas paralelas Ativa e Passiva da Lei de Umbanda, com o objetivo de ocupar, frenar e coordenar toda essa corrente de pensamentos, dita como egregoras, que partiam e partem das coletividades encarnadas e desencarnadas, que passaram a cultuá-lo em rituais e oferendas diversos.

Essas Entidades, ditas como “Douns” em harmonia com as idealizações humanas no mistério no triângulo de manifestações na Lei de Umbanda, assumiram desse jeito, em adaptação mágica, a roupagem de crianças no Astral.

Doum então, muito mais do que um nome de guerra mítico, passou a servir como uma função especializada e de referência na Lei dos entrecruzamentos vibratórios, na chamada Lei das Correspondências dos Orixás (assim como foram outros nomes de guerra das Entidades, em outras linhas vibratórias), arregimentando com isso hierarquicamente na Linha de Yori, Orixás-menores, Guias e Protetores da Banda das Crianças, que assim foram levando este nome em suas funções de trabalho na Corrente Astral de Umbanda.

 

Por conseguinte, Doum na Umbanda nas circunstâncias descritas, por via de uma necessidade de supervisão e controle cármicos, designa uma função mágica ou um posto de comando e distribuição de trabalho e função na própria Lei de Umbanda, entrecruzando para o Orixá Xangô através da Linha de trabalho conhecida como Caboclo Sete Cachoeiras, e tendo o Exu Lalu (o qual nessa dinâmica possivelmente interage com o Exu Calunga, que é serventia na Lei do Caboclo 7 Cachoeiras) como sua serventia na paralela passiva, a fim de coordenar e controlar todo este movimento através dessas Entidades (portanto, desde o astral mais superior até o mais inferior), que assumem este nome (Doum e sua serventia Exu Lalu), as egregoras humano-astrais que se criaram e se plasmaram no astral.

 

E o mesmo movimento se processa segundo explica Matta e Silva em Umbanda de Todos Nós (pag. 108 na 5° edição) com outras Entidades, por exemplo:

 

  • São Jorge, São Sebastião e São Jerônimo na Umbanda

 

Sabemos que no movimento umbandista existe uma tremenda corrente de pensamentos (egregora) que é criada, dinamizada e projetada para a figura de São Jorge, mobilizando por sua vez, um tremendo contingente de pessoas que depositam suas aflições e questões várias no mesmo.

Por conseguinte, a fim de que essa egregora seja supervisionada, coordenada, frenada e controlada, segundo Matta e Silva, na Umbanda, a Entidade outrora conhecida como Jorge projeta sua identificação como Ogum de Lei (A Justiça executante). Não devendo ele, a Entidade Jorge, assim de modo algum, ser confundido como o próprio Orixá Ogum, pois o mesmo na Umbanda é uma Entidade Militante dentro da irradiação da Vibração Original de Ogum.

 

O mesmo processo ocorre com São Sebastião que projeta sua identificação como Caboclo Arranca-Toco e com São Jerônimo que na Umbanda identifica-se como Xangô Kaô. Ambos, da mesma forma, são Entidades que coordenam, que supervisionam outras Entidades militantes, que assumem os seus mesmos nomes de guerra, a fim de frenar e controlar os ciclos e ritmos que se desenrolam em suas respectivas egregoras humano-astrais com seus imensos contingentes de seres carnados e desencarnados que para eles apelam.

 

Todos estes elementos com seus nomes, sejam míticos ou não, tenham ou não tenham tido encarnações ou existência físicas, fizeram com que existissem, portanto, multidões ou coletividades que   sistematicamente criaram na linha do tempo egregoras humano-astrais. E essas, de um modo ou de outro, passaram a ser no movimento umbandista controladas, frenadas e coordenadas pelas Entidades da Corrente Astral de Umbanda.

  • Então, qual é a questão, dentre outras, para a qual se fundamenta, que uma pessoa para ser iniciada na Raiz de Guiné, tenha que passar ou se ligar a um mestre de iniciação?
  • Onde quisemos chegar com todos esses exemplos dados por Preto Velho e pelo velho Matta sobre as ditas egregoras?

Da mesma forma, na chamada Raiz de Guiné, com o tempo, passou-se a reunir pessoas, que foram sendo iniciadas dentro dela e, essas, foram por sua vez, associando espiritualmente outras mais...Essas pessoas em suas vivências iniciáticas na Raiz criaram então, a partir da concepção esotérica e militância toda uma corrente de pensamentos os quais, lenta e seguramente, estabeleceram e ainda sustentam toda uma egregora especificamente voltada para a própria Raiz de Guiné.

Daí é que foi a egregora da Raiz de Guiné, da mesma forma, espiritualmente ocupada e controlada pelas Entidades da Lei de Umbanda. Portanto, existe uma tradição criada e firmada a partir dos ensinamentos de Matta e Silva e das iniciações que ele promoveu enquanto médium-magista e mestre de iniciação, que se sustenta e se dinamiza em seus ciclos e ritmos próprios, através dessa egregora, a qual existe nesse modus operandi como um laço de ligação entre o plano astral e o plano humano.

Neste sentido, somente poderá ser iniciado na Raiz de Guiné, a pessoa que passar por um mestre de iniciação feito na Raiz.

 

2°) Quanto a atuação dos Tribunais Cármicos nos movimentos religiosos e egregoras respectivamente constituídos

 

Pai Guiné fala ao “zi-cerô” também em Lições de Umbanda e Quimbanda na Palavra de Prêto-velho, na 5° edição,  páginas 51 e 52 o seguinte:

Que existem três instâncias de Tribunais Cármicos no Astral, quais sejam;

a) Tribunal Supremo ou Planetário;

b)Tribunais Superiores, que se encarregam de controlar os carmas-grupais de cada coletividade religiosa, espiritual ou iniciática, dentro de suas faixas-afins, sejam encarnados e desencarnados;

c)Tribunais Inferiores, que exercem o controle ou o julgamento direto, sobre cada ser, em relação com a coletividade religiosa e/ou iniciática a que ele pertence.

Ora Pai Guiné para melhor compreensão sobre a dinâmica de funcionamento desses Tribunais, deu como exemplo para o “zi-cerô" o seu próprio caso pessoal dentro da Umbanda. Disse naquela ocasião, que há mais de 20 anos, o próprio "zi-cerô" vinha dentro da faixa-afim da Umbanda vivenciando e processando carmicamente suas tendências, sua fé, seus sofrimentos, suas lutas morais-espirituais, suas derrotas e vitórias.

Logo, segundo Prêto-velho, tudo isso, assim se desenrolando em toda essa processualidade, fez com que o “zi-cerô” fosse haurindo e constituindo, um alento de fé, de chamado e socorro espiritual, nessa relação especificamente concretizada entre ele e as coisas da Umbanda, a qual, portanto, sempre foi o  norte espiritual essencial na sua consciência.

Portanto, segundo Prêto-velho, quando “zi-cerô” desencarnar, será aferido e julgado, para dai ser submetido à um controle e reajustamento cármico-individual, por Entidades Superiores, mas, que são afins à Corrente Astral de Umbanda e não de outros Tribunais Astrais, relativos à outras faixas ou sistemas religiosos com suas respectivas coletividades, quais sejam, por exemplo; católicas, protestantes, budistas e assim por diante...

 

Logo, essa egregora da Raiz de Guiné, assim constituída, bem como todas as outras, estará, portanto, sendo constantemente supervisionada pelos tribunais cármicos do Astral, que controlam o carma grupal e individual dos iniciados na Raiz, aferindo suas ações e reações individuais e em grupo.

 

Ora, cada sistema iniciático tem a suas especificidades próprias, seus sentidos inerentes, suas injunções e determinações as quais, irão gerar repercussões humanas e astrais. Dai é que tudo isso como dito, é karmicamente supervisionado, aferido e reajustado constantemente conforme se faça necessário.

Ora este é o caso implicado também na necessidade que se faz presente, de se ligar a um mestre de iniciação na Raiz de Guiné para nela ser iniciado.

 

Pois tudo isso será processado por Leis kármicas através da regulação dos ditos Tribunais Astrais e, a partir delas, de acordo com a egregora e com a faixa-afim que o iniciado respectivamente ocupa ou ocupou, será ele então aferido e julgado segundo a ligação que teve com a Raiz de Guiné, sendo que a partir dessa ligação, ele será reajustado de acordo com as relações, atitudes e ações que estabeleceu por via dessa ligação iniciática em seu karma.

 

Santa Paz

 

Tarso Bastos e Rogério Corrêa