Casos e coisas de Umbanda. Caso C.
Extraído do livro Umbanda e o poder da Mediunidade de W.W. da Matta e Silva.
Um caso de desobediência ao astral, vaidade mediúnica, resultou em acordo com o baixo astral, e perdeu o contato positivo com as entidades.
Esse caso que agora vamos relatar, e para o qual chamamos especial atenção do leitor, é um dos mais complexos e dolorosos que pudemos constatar, pois a pessoa nele envolvida foi durante longos anos um amigo de estreitas relações conosco.
Antes de entrarmos no ponto essencial, temos que fazer um ligeiro histórico da personalidade desse amigo, o qual denominaremos, Mariano.
Mariano era alto funcionário de uma repartição policial e até aos 47 anos dentro de normas comuns, isto é, até aquela idade só se havia preocupado com a vida material funcional etc., como era um homem bem posto, cheio de vitalidade, tivera como era natural, dentro desse seu sistema de vida, vários casos amorosos.
Cumpre frisar que não tinha religião, mas, se não acreditava em nada também desfazia; assim passava a vida, com seus hábitos, com seu lar, com sua companheira Sandra; criatura essa de gênio forte, imperioso, mas que ele dominava a ferro e fogo...
Pois bem, havendo a companheira sido acometida de grava enfermidade, além de outras circunstancias que se precipitou, Mariano passou por grandes abalos nervosos, excessivas preocupações, a ponto de, mal a companheira se levantou do leito, mais ou menos restabelecida, ele caiu violentamente enfermo.
Sintomas vários mascaravam sua real enfermidade, o ponto nevrálgico de seu sistema, imprimindo em seu psiquismo tamanho descontrole que ele chegou a ser isolado e fiscalizado dia e noite, porque era acometido de tremendas crises.
Nessa altura, escusado dizer que a assistência medica que tinha intensa, incluindo-se nela um compadre catedrático de medicina, Dr.S.
A par de todo esse descontrole, surgiram-lhe também tosses violentas, com todas características de uma fraqueza pulmonar; os médicos que assistiam Mariano (inclusive esse compadre medico, que era umbandista) já tinham praticamente diagnosticado a inoperância, de qualquer medicamento, de vez que ele se encontrava nas ultimas.
Reuniu-se a numerosa família numa sala, aguardando o desencarne de Mariano. Foi quando esse seu compadre (o catedrático de medicina Dr. S) ficando sozinho com D.Sandra junto ao enfermo, disse-lhe que, pela medicina, o caso estava liquidado, mas que lhe tinha dado ver, na cabeceira de Mariano, um vulto parecendo um preto velho; que ia repousar, tendo como certo o proximo desenlace, mas que estaria atento para as providencias que o caso exigisse.
Aqui temos a relatar o que o próprio enfermo nos contou depois...
Disse-nos ele que: ----- viu chegar (dentro daquele seu estado de inconsciência física, mas assim como se estivesse consciente por fora do corpo) uma entidade possante, tipo caboclo, com uma espécie de armadura, montado num cavalo, apear, cruzar (cortar em cruz) o ar com uma espada e estende-la depois sobre ele, mandando-lhe que observasse o que se passava...
Mariano então viu seu corpo num caixão, como “morto”, e a casa cheia de parentes e pessoas amigas, enfim, um desfile nos moldes sociais, comuns a quem tem vastas relações e certa categoria na vida humana.
Foi quando ele--- Mariano ---- começou a ver com os olhos da alma quanta hipocrisia e quanta aparência por ali estava acontecendo. Revoltado, começou a clamar: “Não quero essas coroas! Para que esse fingimento!...”.
Agora, cabe esse final ao relato da companheira de Mariano, D. Sandra, que estava sozinha com ele no quarto. Disse ela: “Vi subitamente Mariano, que estava imóvel, como que morto”, começar a falar (as mesmas reclamações que citamos acima) e tendo acendido uma vela, preparou-se para chamar os familiares só não o fazendo porque naquele instante Mariano já se havia levantado do leito e, sentando-se, foi falando assim... “óia, fru Sandra, num tenha medo, preto veio T... tá aqui”...
Então foi quando D. Sandra pensou que Mariano tinha enlouquecido e chamou apenas uma filha mais velha dele, para testemunhar algo que ela pressentiu de modo diferente.
Dali, para não entrarmos em detalhes nesse particular, “preto véio” acertou com D. Sandra uma serie de providencias para o tratamento de Mariano, dizendo ao mesmo tempo em que vinha em missão e que depois acertaria ao resto. Precisamente com sessenta dias, Mariano já se encontrava quase curado. Basta dizermos que, no curso dos primeiros cinco anos, essa entidade fez curas, fez trabalhos incríveis (secundado por um caboclo de nome Sete...) ao mesmo tempo que Mariano modificava seu sistema de vida material.
Passou uma esponja no passado e tomou estatura espiritual, a ponto de viver exclusivamente dedicado ao “seu santo”, ou à função mediúnica dentro da pura linha da caridade...
Se fossemos relatar tudo que aconteceu, por força de função mediúnica desse amigo e irmão, um livro de quinhentas paginas não seria suficiente...
Mas, como nosso objetivo é relatar certo ângulo (mesmo em memoria dessa amizade, pois já é desencarnado) que implicou diretamente em sua queda, pelas artimanhas nefandas de um baixo astral contrariado e mesmo pela facilidade com que a inexperiência cooperou para isso, voltemos ao ponto em que atuamos diretamente no caso.
Corria o ano de 1956 e precisamente no mês de setembro, após o lançamento de nossa obra “Umbanda de todos nós”, estávamos na “Gazeta do Brasil”, quando recebemos, dentre inúmeros telefonemas, um, cuja voz, excitada, assim comunicou-se; “Professor da Matta, aqui fala o Mariano; acabo de ler sua magnifica obra, considero-a impar até o momento e necessito urgentemente de um contato direto com o senhor, pois estou passando por uma situação terrível, precisando de orientação e esclarecimentos. Pode vir à minha residência , na Penha?”
Respondemos-lhe que sim, marcando dia e hora e lá fomos ter.
Penetrando na residência de Mariano, de imediato nossa sensibilidade acusou estar tudo por ali em tremendo alvoroço psíquico, emocional e astral.
D. Sandra, companheira de Mariano, estava pronta para a separação, e as próprias filhas nem mais falavam com o pai.
O local de seu conga estava fechado, em estado de abandono...
Foi quando ele nos conduziu para um lugar reservado da casa e relatou-nos o seu drama, e à proporção que o desenrolava, pudemos ir sentindo quanta angustia quanta agonia, quantos dissabores, quanta perturbação ia naquela alma.
Em síntese, foi o seguinte o seu caso:- -- em 1955, após uma longa atividade mediúnica, sentindo-se esgotado, Mariano se preparava para um repouso na roça, quando lhe surgiu uma senhora idosa que ali completamente louca.
Mariano não quis atender, pelo menos naquele período em que ele estava sentindo-se saturado, mas sua companheira, movida talvez por uma fé cega, insistiu bastante dizendo-lhe :
“Esta com medo de quê?” “Você tem os velhos ou não tem?!”...
Diante dessa pressão e do estado angustioso da mãe da moça doente, começou por pedir na sessão da noite a interferência de sua entidade protetora, a qual fez um certo trabalho para que a citada moça fosse ao terreiro, de vez que nem de dentro da casa podia sair, dado seu deplorável estado.
Após isso, a moça veio ao terreiro de Mariano e o tratamento foi iniciado. Duraram algumas semanas.
Foi quando o Pai T... Marcou o trabalho final, frisando repetidas vezes a gravidade do caso e do trabalho que implicaria no afastamento decisivo de todos aqueles inimigos astrais daquela moça, que assim cobravam dela o tributo de um carma pesado; disse ainda que esse trabalho final era de vida ou morte, exigia especial cuidados.
Para isso determinou procurassem local adequado na roça, onde pudessem contar com uma cachoeira, mata etc.. e sobretudo que só podiam acompanhar seu aparelho nesse trabalho final as pessoas que escolheu imediatamente. Cabe agora entrarmos com duas particularidades: a moça louca já estava quase restabelecida e também já tinha surgido nas sessões uma sua irmã que chamaremos de X, criatura nova, bonita, prendada e solteira.
Lembrados tais fatores, voltemos ao ponto em que todos os escolhidos, inclusive a ex-louca e sua mãe, já se encontravam no local preparado.
Lá foi que aconteceu certo imprevisto de influencia decisivo nos acontecimentos posteriores: a chegada de parentes de D. Sandra e da dita moça, que, se bem que fossem frequentadores das sessões, não eram pessoas que pudessem ser consideradas de fé e não tinham sido escolhidas para esse trabalho final.
Uns chegaram até a levar radio vitrola, outros, vidros com batidas (mistura de cachaça com limão etc.) como se tivesse ido mais ou menos a um piquenique ou para horas de alegria em plena natureza.
Certas coisas ou certos acontecimentos que se deram particularmente entre Mariano e X (irmã da ex-louca) foi que nos deixaram, durante bastante tempo, sem saber como interpreta-los, de vez Mariano nos contara de um jeito e sua companheira Sandra de outro.
Somente após o desencarne de Mariano e dentro de toda angustia e de todo o drama que ele viveu intensamente durante oito anos mais ou menos e do qual fomos confidente e testemunha, dada a estreita ligação que mantivemos daquela época para cá, hoje pudemos dizer o que realmente aconteceu, desde aquele fatal instante em que se deu a interferência de pessoas não escolhidas para a fase final daquele trabalho vital.
Então entremo-nos diretamente: Ora, a tremenda responsabilidade que os guias de Mariano haviam assumido em fase do pesa carma da ex-louca, e a consequente luta gigantesca que mantiveram, a fim de frenar, dominar e afastar os obsessores que a queimavam, a ponto de já do berço vir naquele estado, não foi brincadeira... Não foi um caso comum de desobsessão.
Assim, quando tudo estava finalizando, armado e projetado para o lance decisivo dentro da expressa recomendação de que “tal trabalho seria de vida ou de morte”, houve, talvez, já como ultimo recurso do astral inferior, o aproveitamento e consequente influenciação sobre aquelas pessoas que vieram e assim assumiram um grande domínio da situação que estava praticamente perdida, para esse dito astral inferior.
Portanto, foram logo se aproveitando daqueles parentes de D. Sandra e da ex-louca, projetando cargas fluídicas e certos estímulos sobre eles, nos quais são mestres, conseguindo atordoar e criar complicações... dada naturalmente a inexperiência dos participantes, mesmo em face das expressas recomendações da entidade mentora de Mariano.
No pé em que assim acontecia, Mariano começou a sentir se atordoado, pois que a outra moça ( irmã da ex-louca) já avia até caído de um cavalo, quando passeava, e torcido o braço...
Dentro desse estado de preocupação, a par com certos desentendimentos que surgiram entre ele e D. Sandra, que estava ficando enciumada de X, deu-se que o caboclo Sete...”incorporou em Mariano com grande violência eo conduziu para dentro da mata” O que aconteceu por lá ninguém sabe, o fato é que voltando.... e disse:--- “ a situação é grave ...querem estourar de um jeito”, mas vou ver o que ainda posso fazer... Vocês estragaram quase tudo. Digam “ao meu aparelho para descer (ir a sua residência da Penha), que lá precisam de socorro urgente...”.
Mariano desceu e chegando a sua residência encontrou suas três filhas gravemente enferma, à morte.
Ai foi que temeu mesmo e acovardou-se, atordoou-se mais ainda, perdeu o controle; foi quando Pai T... Manifestou-se e trabalhou intensamente sobre suas filhas, deixando-as restabelecidas.
Cumpre ainda ressaltar que as pessoas que estavam ligadas a esse médium não tinham conhecimentos, nenhum estudo, nenhuma experiência, e as entidades de Mariano praticamente estavam sós... Na parte humana não tinham o necessário apoio.
Dali, finda a tarefa, Mariano voltou à roça e lá manifestou-se novamente o “caboclo Sete...”, mandando que todos regressassem, de vez que o “estouro” já estava feito, as consequências iriam surgir, mas a moça acabaria mesmo ficando completamente curada e que ele tinha feito uma combinação com a parte contraria (que entre o pior, essa seria a melhor, pois havia contentado a sanha dos obsessores de um certo modo).
Agora, entra a parte crucial, dolorosa do caso...
Tudo parecia estar normalizado, mas, durante o carnaval, Mariano já pronto de viagem para o interior, a fim de descansar, sua companheira Sandra entrou em desentendimento com ele, resultando disso que ela foi com parentes para uma fazenda e Mariano ficou com duas filhas, inclusive a irmã as ex-louca que ali passava dias.
À noite, a filha mais velha convidou Mariano a um passeio a Avenida Rio Branco, juntamente com X, para ver o movimento carnavalesco, e ele, apesar de indisposto, foi.
Lá--- disse-nos ele---sabe em que instante seus pensamentos começaram a se modificar com relação a X, admitindo que isso começasse a acontecer com X lhe deu o braço para atravessar a multidão.
Desse ponto até em casa, não foi mais senhor de suas emoções, mormente quando percebeu que X também estava muito perturbada com esse contato.
Após chegarem à residência, movido por estranho impulso, convidou X a sair com ele --- a sós... E aconteceu o inevitável entre os dois.
Depois Mariano alugou uma casa para X e essa deixou a família... Após um ano, nasceu uma linda criança do sexo masculino, hoje já crescida etc...
Contar aqui os horrores e a desmoralização que lançara sobre Mariano, o estado de choque e a barreira que interpôs logo entre ele e D. Sandra e suas filhas, não interessa o objetivo; mas foram quase oito anos de tragédia, de angustias e de solidão e incompreensão moral espiritual, quebrada apenas com
Era doloroso ver que Mariano sofria terrivelmente ao recordar todo brilho de sua coroa perdida e o remorso que constantemente o acometia, porque se julgava um tanto o quanto culpado, não obstante a fria analise que fazíamos reiteradas vezes, daqueles acontecimentos...
Acabou vencido por uma profunda neurose, incompreendido e maculado por todos e particularmente pela sua companheira, que nunca se conformou com nenhuma explicação daquilo que enxergava apenas com sua fraqueza de mulher...
Escusado dizer que todos os íntimos das suas sessões também se afastaram de Mariano, espalhando o caso, conforme suas mentalidades alcançaram.
Não vamos nos estender em maiores detalhes, porque seria fastidioso para o leitor, mas basta dizermos que, o que mais doía na alma de Mariano, foi quando sentiu diretamente a ausência de seu “preto velho”, levando muito tempo para compreender o seguinte:--- o preto-velho, como “chefe da sua cabeça”, havia feito as recomendações especiais quanto a esse trabalho e por duas ou três vezes baixou deixando para ele recados com D. Sandra, “que tivesse cuidado com a tentação que podia vir em forma de mulher”... o que ele, cremos, não levou na devida conta...se bem que, ao mesmo tempo julgasse que assim havia acontecido, já por “força de demanda”, pegada numa época em que devia ter recusado, visto se encontrar saturado psiquicamente da lida mediúnica.
É, prezado Irmão, um caso difícil de se julgar, porque quem julga com precisão de causa são os tribunais de cima, e nós humanos nos pautamos apenas pelos efeitos.
Por que Mariano foi abandonado pelos seus guias?
Por que recaiu mediunicamente?
Mas essa decaida não pode ter sido em consequência dessa demanda, dessa “rasteira do baixo astral”?
“Essa moça X não foi imolada como a condição arreglada entre os guias de Mariano e esse baixo astral, como a condição exigida e aceita de”... ”entre os males ficar com o menor”?.
E o pior não seria o desencarne das três filhas de Mariano, pelo revide do baixo astral, visto a moça ter ficado boa e esse ter voltado a dominar a situação?
E, finalmente, por que X serviu de “bode expiatório” nessa intrincada demanda?
Não seria devido a que seu próprio carma exigisse tributo semelhante?
Prezado Irmão Mariano não perdeu as suas entidades tão somente por esse caso ou pelo fato de ter feito o que fez com X, como revide ou como a compensação estabelecida entre as partes em litígio.
Perdeu porque o abalo moral foi tão grande, viu-se tão desprezado por tudo e por todos, jogado de tal maneira à rua da amargura, que descontrolou completamente seu sistema nervoso, sua saúde física, entrando em profundo abalo cardiocirculatório, tudo de par com a profunda neurose que adquiriu e para a qual era propenso.
Enfim, Mariano passou a cometer uma serie de desatinos dentro do lar, criando durante todos últimos anos de vida tal situação, tal ambiente de incompreensão geral, tornando-se impossível sua reintegração moral- mediúnica, caindo num tremendo exclusivismo mediúnico,ou seja, naquilo que já tantas vezes debatemos:--- por vaidade, por brios ofendidos, quis manter a todo custo o peso de uma coroa sem ter condição.
Moral do caso:- -- Em trabalhos dessa espécie, ou que se assemelhem, há que se ter “cancha”, isto é experiência para se cercar de cuidados necessários, sabendo-se que os guias e protetores, por mais firmês que sejam, ou por mais que estejam conosco, não podem resolver tudo, enfrentar tudo, decidir tudo, sem a colaboração firme, consciente e responsável de seus aparelhos e pessoas auxiliares.
Isso é tão logico quanto o respeito ao livre arbítrio de cada um, os percalços da natureza carmica de cada um, e, sobretudo é imprescindível a necessidade de agirem em aparelhos dentro de um acentuado controle psíquico, orgânico etc...