Casos e coisas de Umbanda. Caso E.
Extraído do livro Umbanda e o poder da Mediunidade de W.W. da Matta e Silva.
Desmanchar trabalhos exige prudência e conhecimento.
Esse caso que agora passaremos a relatar serve para demonstrar que o mal existe, a duvida existe, e que o médium dirigente ou responsável esta sujeito a um mundo de coisas, porque na Umbanda não escolhemos o caso que queremos, somos forçados a pegar aquele que nos bate à porta.
Isso passou nos albores de nossa função mediúnica e quando ainda a experiência não nos havia encanecido nesse mister.
Ao cair da tarde de uma sexta-feira, no ano de 1949, estávamos sentados, com a esposa e a sogra, em frente de nossa casa, quando divisamos, descendo a estrada que vinha dar em nossa porta, dois homens que conduziam um terceiro, de cor negra, numa cadeira servindo-lhe de padiola.
Quando perto de nós, pousaram no chão a cadeira, olhamos para o homem de cor, que nem gemer mais podia, tais as contrações de dor.
Toda sua perna direita estava extremamente inchada, a ponto de o botinão que calçava estar apertado que nem tira-lo ou corta-lo havia sido possível.
Disse-nos Paulo, um dos que o conduziam, que o caso era para nós, visto aquele homem ter pisado uma “macumba” de manhã e dai ter começado a passar mal daquela forma.
Ficamos apavorados, porque a perna do homem apresentava sinais muito evidentes de tétano, conclusão a que o medico que examinara havia chegado.
Mas, fomos para nossa “gira”, lá concentramos e o Pai G... Houve por bem chegar. O fato é que trabalhou na perna do homem de tal forma, que até lhe foi possível, mesmo se arrastando, ir a certo local indicado, ali perto, fazer a descarga do trabalho executado por Pai G...
Depois, tornaram a pô-lo na cadeira, e debaixo de nossa expressa recomendação de que voltasse imediatamente ao medico, pois temíamos a precipitação do tétano, foram embora.
No outro dia ---sábado--- estávamos de novo sentados no mesmo local, em nossa casa, quando vimos aproximar um homem de cor pisando firme e decidido, o qual chegou à nossa frente, agradeceu-nos o bem que lhe havíamos feito, dando-nos de presente um embrulho de frutas.
De principio, ficamos confusos, e perguntamos ao homem:- -- “O senhor é aquele mesmo que veio ontem?” Ao que nos respondeu, batendo na perna direita:--- “Sou eu mesmo; não sinto mais nada...estou bom.”
Retirou-se, e ficamos olhando-o até sumir por tras de um morro proximo.
Porem, não pudemos conter a duvida sobre aquela estranha cura, e dissemos para a esposa e a sogra :--“Vocês acreditaram nessa “macumba”?--- feita ontem, pegada, ontem trabalhada, ontem é curada
Ao que nos respondeu a sogra: “Ora seu Matta, pois nós não fomos testemunhas? Nós acreditamos sim!”.
Podíamos encerrar o caso aqui, se não fosse o que nos aconteceu à noite. Dormíamos quando fomos acordados por suaves latidos de um cãozinho que tínhamos, de nome “Pegi”,o qual nos puxava com a sua patinha.
Levantamos pensando ser ladrão. Observamos tudo, e nada. Voltamos ao leito, e novamente repetiu-se a mesma cena do cãozinho. Fomos ainda verificar o quintal, pensando ser algum animal que rondasse por perto. Nada. Tudo deserto.
Dai já voltamos ao leito desconfiado de algo astral. Deitamos novamente e instintivamente olhamos para o relógio, verificamos ser quase meia-noite. Súbito, estranho mal-estar de nós se apoderou, pois nossos olhos físicos viram perfeitamente, na parede branca, de frente, fantástica figura, da qual só nos lembramos bem do tórax para cima: tinha um comprido e fino pescoço, que sustentava pequena cabeça, cuja cabeleira só podemos dar uma ideia, se dissemos que era assim como um amontoado de cipó comprido como a piaçava; tinha olhos e nariz tortos e irradiava vibrações pesadas que nos sensibilizaram ao extremo, mormente quando ouvimo-lo dizer :--- “Me de caminho... fiquei preso aqui... esperando o meu... ainda não ganhei para ir embora...”
Imediatamente pulamos da cama, firmando nossa “gira”, e na segunda-feira despachamos aquele estranho visitante.
Moral do caso:- -- Se bem que hoje em dia não exista quase mago negro de verdade, o fato é que a magia negra existe. A “coisa” é feita. A “coisa” pega e se não se abrir os olhos em tempo, não há médicos que curem...
Dentro da regra da magia negra não convém, de forma alguma, ao médium-magista desmanchar trabalhos “no peito e na raça”; isso lhe trará demandas astrais, em todo caso que assim proceder.
O mais conveniente é “dar o caminho" dentro da compensação, ou do suborno, atraves das oferendas adequadas aos casos.
Agora, o que é preciso saber como ”dar caminho, pelo tipo de oferenda”... E quando duvidar, é humano, pois as coisas que acontecem por dentro de um terreiro, durante anos e anos, se descritas, acabariam sendo levadas em conta de visionarismo...