Reflexões de um caminhante:
É nas grutas que se acha o Cristo.
Plausível é classificar a existência de dois modelos de seres humanos neste planeta: O primeiro é relativo à maioria, ou seja, às massas planetárias. Irmãos que provisoriamente vivem embalados nos moldes do cotidiano terrestre. Estão inteiramente acorrentados na rotina diária.
Esta maioria acorda, labora, se alimenta, busca gozar os prazeres que o mundo proporciona e, eventualmente, quando alguém na família se adoenta ou quando a situação financeira se desequilibra, procura um templo para pedir a cura do enfermo e o equilíbrio nas finanças.
Vivendo desta forma, são quase integralmente escravos do que lhes oferecem seus semelhantes. Similares a androides autômatos, ignoram quaisquer assuntos metafísicos. Sim, desconhecem, não conversam sobre tal e o turismo terrestre ocorre enquanto não findar sua infeliz existência – isso não exclui a possibilidade de lograrem êxito em seus reais objetivos neste planeta, eis que mesmo cegos às vezes exercem impecáveis condutas Crística (digo isso para não descambar no falso e tolo raciocínio de que todo ateu, agnóstico ou aquele que ignora a transcendência é necessariamente ruim e padecerá em sofrimento na posteridade).
De qualquer forma, a lei divina sempre estará tentando nos guiar segundo nosso propósito planetário, sendo assim, cedo ou tarde “daremos ouvido” à batida de porta consciencial (pode ser nesta vida, ou noutra, caso para cá retorne, ou mesmo nos mundos invisíveis.
O segundo modelo será o que aqui trataremos. É referente àqueles que escutam a supramencionada batida de porta consciencial – Advirtamos que não adentraremos no mérito se possuem condutas Crística ou não, pois como já explicado e fazemos questão de repetir devido à confusão que se fazem com isso. Finalizo que em ambos os modelos podem ou não existir seres encarnados prestando um bom papel em sua jornada evolutiva.
Alguns fatos contribuem para o início do despertar consciencial, pois bem, cito-os: “ um vazio interior; indagações sobre sua origem, destino e o que de fato é e representa sua existência neste enorme “formigueiro” terrestre de quase 7 bilhões de habitantes; um choque traumático na vida pessoal, laboral e social onde trepidam melancolias, fazendo o ser pensar que está no caminho errado, bem como frustrações de toda sorte; reflexões sobre as religiões, doutrinas filosóficas e misticismos espalhados pelo mundo e até mesmo preocupações e angústias de ordem material. Entre outras, cujas linhas se prolongariam e arderiam às vistas do leitor.
Sabendo que ainda somos cegos e estamos aquém das verdades absolutas neste desconhecido macrocosmo, tentaremos abordar uma hipotética jornada que comumente ocorre nos melhores ou piores “corações” mundo à fora
Então eis que no caráter do segundo modelo, (prelúdio do texto) se inicia a saga deste candidato a iniciando (aquele que quer ser aceito por determinada ordem ou seita).
Após o primeiro passo ou o convite mental, é natural que procuremos algo externo que nos auxilie a preencher este enorme vazio interior à fim de que se liquidem os “esperneios “da mente, e portanto, a jornada se inicia.
Em seu segundo passo, o iniciando estará à mercê de um oceano de informações, onde vencerá ou será vencido; será “trigo ou joio”; devorará o leão das ilusões ou será devorado por este. Nesse sentido, evoco as palavras do Cristo para corroborar o raciocínio, vejamos: “porque muitos são chamados e poucos escolhidos” e “não podeis servir a Deus e a Mamom “
Nestes dois aforismos, a conclusão é que existe na Terra a verdade de Deus e a verdade dos homens (ilusão); e aqui na Terra ainda prevalece a verdade dos homens, sendo o motivo de poucos serem os escolhidos - Daí surgiu o intencional e frívolo raciocínio dicotômico usado pelo homem (Mamom), de qualquer seguimento ou secção, para acorrentar seus semelhantes sob suas rédeas e caprichos pessoais – iremos dispensar minúcias.
Neste caminhar e mergulhado em uma imensidão de conhecimentos, onde não se sabe o que é de Deus ou Mamom, o inseguro iniciando em sua busca teórica/literária conhece Jesus de Nazaré, o mestre da Galiléia que ensinava as leis de Deus através de parábolas e escolheu um único discípulo, de nome Tomé, cujo maior alcance possuía, para transmitir conhecimentos de cunho outrora hermético. Este Jesus, levava multidões aos sítios da natureza e demonstrava de forma pragmática que a Lei divina se consubstancia no desapego, no amor e na humildade.
O mestre da Galiléia, sempre sereno e firme em suas convicções, pisava eventualmente nas sinagogas banhadas a ouro para ensinar e alertar toda população da Judéia e Palestina sobre: primeiro; a verdade e o caminho de Deus. Segundo; a hipocrisia dos sacerdotes judeus que, acumulavam riquezas às custas da fé, coagindo os ásperos ignorantes da região, subornavam administradores romanos emprestando dinheiro contra juros, e, recebiam privilégios pessoais distante das massas dos crentes. Terceiro; a continuidade dos ensinamentos dos profetas que o antecederam, com sua perfeita primazia e poder interior.
Em apenas uma oportunidade descrita nas escrituras, Jesus perde sua serenidade e equilíbrio, quando se depara com incontáveis ferramentas e apetrechos de todo tipo sendo comercializados em um local consagrado e epicentral à difusão dos ensinamentos de Deus – nesta ocasião, o mestre chuta e derruba todos os balcões de negócios dos sacerdotes, esbravejando que na casa do “ PAI “ não se pode haver vis comércios em seu nome, ou seja, tudo que possa confundir ou alimentar as más tendências daqueles que procuram o caminho de Deus. É perturbador saber que algo retirou o equilíbrio deste cristalino espírito, razão que nos leva a crer que suntuosidade era dos piores vícios ou talvez o pior dilacerador de almas!
O candidato também passa a conhecer o famoso Buda Gautama, com sua linguagem ao povo da época, entremeada de aforismos. O Buda abandonou o principado para transmitir as verdades de Deus sob uma simples figueira, pisando em regiões onde nenhum nobre ou sacerdote à época pisava (ou poderia pisar).
Seguindo na leitura de Confúcio e seus Analectos, amortizador das inúteis disputas das toscas famílias imperiais da China antiga.
Lê as antigas e complexas escrituras de Lao Tsé, simples e humilde viajante que não tinha onde “reclinar a cabeça”, mas é pontual acerca do fluxo da natureza (Tao).
Seguindo a cronologia, depara-se com a vida do assíduo discípulo de Cristo, Francisco de Assis, que abandona seu despiciendo lar, fundado nas extravagâncias do pai mercador, a fim de peregrinar e colocar em prática os ensinamentos do evangelho.
Na contemporaneidade, estuda o virtuoso teólogo Albert Schweitzer, que troca sua confortável vida material na Alemanha, vendendo todos os seus bens com o objetivo de montar um consultório médico com recursos próprios para atender os necessitados no Gabão, país africano – o país destino era hostil e o consultório do Doutor Schweitzer teve de ser montado em um galinheiro, cujas condições eram precárias, com pouca higiene, e se antes dormia nas plumas do império germânico, passou a dormir em um chão de galinheiro entre as fezes e os insetos, ultrapassando os sacrifícios para atender os necessitados e consequentemente exercer sua cristandade.
No século passado ainda tivemos o privilégio de receber nas terras do cruzeiro do sul o maior propagador do cristianismo após Paulo de Tarso, Chico Xavier. Destarte, não perde tempo e o iniciando candidato se entusiasma mais.
Com um modesto emprego e de uma família simples, Chico, este filantropo, dedicou toda sua vida nas práticas do Cristo, psicografando quase 500 obras literárias (a maioria delas sobre as leis morais de Deus nas égides do Cristo). Todos os recursos provenientes dessas obras foram destinados para instituições de caridade. Chico vivia em um pequeno quarto, com pouco conforto e ali estava satisfeito, pois sua fé era ardente e era um sábio conhecedor dos perigos e seduções de “Mamom”. Com uma boina mineira bem usada, às vezes vestia um terno que desalinhava em seu corpo, característico de algo doado ou emprestado.
Certa feita, Chico recebeu com surpresa uma notificação de que um grato homem (Frederico Figner) havia falecido e lhe deixado voluptuosa quantia financeira via testamento. Chico negou e depois com insistência das filhas repassou para a construção da gráfica da Federação Espírita Brasileira (FEB). Não aceitava presentes e se um dia aceitou, certamente doou para um necessitado ou instituição de caridade. Tratava-se de um exemplo de prática cristã tangível, pois ainda recente, é vivo entre nós.
Há diversos outros “avatares” que fincaram a bandeira das leis de Deus neste planeta de dores e redenção, uns conhecidos outros não. Entretanto nosso objetivo aqui não é formar um conglomerado de biografias, sendo todas de fácil acesso hoje no mundo digital. Também tenho convicção de que o leitor as conhece melhor do que o incipiente autor do texto reflexivo. É somente parte da saga do candidato a iniciando.
Abastecido de teorias, o iniciando começa sua jornada prática e é aqui que verdadeiramente travará um duro combate em face ao seu pior inimigo, qual seja, ele mesmo. O candidato à iniciado divagará à procura de um local físico que se diz seguidor de determinado mestre espiritual ou doutrina de elevação consciencial, pois quer se “alimentar”( usarei muito esta palavra, portanto guardem-na) e aproveitar o lapso de seu despertar (é o inconsciente “cutucando” o sub consciente ).
É razoável a procura por essas bandas, pois o iniciando deseja algo externo, palpável para “reclinar a cabeça”. Também está com biografias de grandes mestres em chamas no seu arcabouço mental, portanto quer um mestre exterior, Guru ou secção, e de fato crê que tem e poderá concretizar seu carimbo na Terra desta forma. Suas más tendências, até então encontram-se meio adormecidas ou talvez hibernando, vede que é muito fácil sucumbir, já que não falta alimento para “Mamom”, que logo lhe será servido à luz de velas e caberá ao iniciando evocar bom senso e sabedoria.
Frisando que não almejamos, na construção da saga do iniciando, o famigerado voto de santidade ou castidade. Além disso ser uma falácia inventada por aproveitadores, este não é o alvo do texto. Também não daremos classificação de seccionais, pois além de ser desrespeitoso, poderá fazer o leitor desfocar da substância do tema. Sigamos!
Recebe convites de seus irmãos encarnados de norte a sul, leste a oeste, senão vejamos:
O primeiro é para fazer parte de uma casa dita secreta ou uma ordem organizada, eis que verificou as diretrizes teóricas do agrupamento, repletas de virtudes convergentes às leis divinas que ele estudou na teoria: “humildade, simplicidade, fraternidade, resignação, resiliência, desapego, compaixão, generosidade”. Há ainda neste recheio aversão às vicissitudes e imperfeições como orgulho, vaidade, apego material, egoísmo e tudo que é derivado do desgraçado ego. Ave Cristo, pensa o iniciando. Dominado pelo entusiasmo e com a munição teórica carregada, chegou a hora de se alimentar de Deus. Agora observemos o que na prática lhe será servido (até o momento ele só viu a “casca” e agora é hora de penetrar à polpa).
Este iniciando adentra ao local e vê os trajes exuberantes dos presentes ofuscarem seus olhos. Percebe que cada traje possui luxuosos brasões, uns com mais, outros com menos. Deslumbra-se com o suntuoso palacete, cheios de ferramentas ritualísticas que ele crê ser místico. Percebe uma alta hierarquia, muitos mestres e no topo do púlpito um líder supremo.
Acaba sendo cumprimentado por todos, tem seu brio massageado e, é orientado a comprar itens e ferramentas exclusivas na loja comercial da dita casa. Rodeado de ouro e com as entranhas cheirando a perfume, estonteado recebe o afago de uma luxuosa espada de ouro (que para ele também é uma ferramenta mística). O aprendiz sente - se muito satisfeito e eufórico, eis que surge seu “Mamom” mental, oferece-lhe um delicioso vinho e diz “sente - se neste banquete e te alimentas, pois logo tu serás mestre”.
O segundo convite é para fazer parte de uma casa cujos princípios morais alegam ser proveniente do evangelho de Cristo. Todos sentados e muito bem trajados, escutavam um homem, de batina bordada de ouro e um luxuoso cálice na mão. Percebeu uma certa hierarquia, porque atrás do homem de batina havia outros, mas menos extravagantes. No teto desta casa uma magnífica obra do renascentista Michelangelo, imponentes estátuas de “anjos “e importantes personalidades adornam o recinto. Distraído pela arquitetura, o iniciando nada escuta e percebe não ser o único a perder o foco em decorrência das belezas estruturais.
Sentado, é abordado por um membro da casa que lhe diz ser necessário passar por severos estudos para ser aceito naquela casa de Cristo. Vê uma cesta circulando e coletando dinheiro dos adeptos, sendo que quando chegou sua vez nada pôde depositar, pois não o tinha. Outro membro, com um generoso e elástico sorriso, o convida para visitar a loja comercial ao lado da casa, fitando-o, ainda comenta que comprando os materiais sua fé robustecerá. Contente que será “aceito” por Jesus em sua própria casa, surge “Mamom” mentalmente chamando-o à mesa e aduz: “seguirás à risca como um vassalo o código dos enviados de Deus desta casa de Cristo, caso contrário calcarás um abismo com um terrível e deformado ser de chifres que atormentá-lo-á por toda a eternidade”
O terceiro convite foi para outra casa, com diferentes visões estéticas à anterior. A maioria de seus membros usava um traje de origem francesa, o requintado “paletot”, (na língua portuguesa, paletó) gravatas e colado às axilas uma suada e surrada bíblia ( “ torah” e o “ evangelho de Jesus)”.
Havia muitas pessoas em pé escutando um homem transpirado e engravatado, que se já não bastasse o amplificar de voz eletrônico, sua voz era aguda e estridente – os tímpanos tremiam e a pressão arterial ascendia. Ocorria um “surfar” coletivo nas ondas vibracionais do transpirado líder – algumas pessoas já com fadigas físicas e pouca voz chegavam a girar o corpo, cambalear e em alguns casos, cair de vez. Após os gritos, iniciou-se solicitações de natureza material, tais como, depósitos em conta, compras de produtos imantados ou benzidos, livros, líquidos sagrados, porcentagens salariais e outras coisas mais. Tratava-se de um pedido de misericórdia do líder da casa que aparentemente preocupado dizia que o local poderia fechar e o Cristo ficaria aborrecido com os colaboradores, até porque, segundo ele, todos os bens materiais conquistados pelos seguidores manifestavam – se através daquele sagrado ambiente.
Quando estava saindo foi abordado por três fervorosos simpatizantes que lhe disseram que ali seria seu caminho e eles poderiam provar! Disseram que quando entraram na casa suas vidas se modificaram, pois conseguiram adquirir carros importados, casa no litoral e visitavam a América do Norte todos os anos para interagirem em um enorme parque de diversões! Aparece o repetitivo e incansável “Mamom” mental e dessa vez grita: “ Seja um servo de Deus! Retira-te desta modesta e infeliz vida onde experimentas somente revezes. O verdadeiro servo de Deus é aquele que muitos bens tens “
O quarto convite destinou-se à uma casa regida por uma doutrina cristã de um filósofo europeu. Adentrando foi abordado por vários adeptos com dilatáveis e enormes sorrisos no rosto e agraciado de boas-vindas àquela religião (religião? refletiu mentalmente o adepto sem questioná-los). Ali todos diziam enxergar “espíritos” angelicais reluzentes. Convidado a entrar em uma restrita sala, na qual diziam receber mensagens desses espíritos através da escrita, o iniciando entusiasmou-se, porque segundo os membros da casa as mensagens vinham de grandes nomes que já passaram pelo planeta Terra ( cientistas, médicos alemães e eslavos, filósofos franceses, poetas do romantismo, músicos da cultura barroca e até de Jesus) – eram bem criteriosos e intelectuais, não aceitavam qualquer mensageiro!.
O aprendiz viajante avistou um adepto que transcreveu uma longa mensagem sobre as bem aventuranças do Cristo e no final assinou caligraficamente torto com o nome “Sr. Benedito”. Havia um coordenador que advertiu o pobre adepto vigorosamente, dizendo – “irmão, você precisa estudar mais, eis que aqui não é lugar para mensagens de selvagens e sim, seres civilizados e de luz!”.
Com o peito estufado e nariz apontado para júpiter, o iniciando, sentado recebe a intervenção mental de “Mamom” com fragrância de perfume frutado produzido com âmbar-gris ( óleo de baleia usada para a fixação de perfumes de alta qualidade) e delicadamente expõe, com sotaque: “ Tu és um ser cristalino e de luz. Penetrando nesta casa terás contato exclusivo com seres de vossa envergadura, daqueles livros que leste, isso não é para qualquer um, só para escolhidos”.
O sexto convite levou o entusiasmado candidato a uma casa no meio da natureza. Ali todos diziam viver um estilo de vida saudável, ético, vegetariano, estruturado e distante das amarras do mundo. Seguidores de vários mestres, falavam de jesus, buda, Krishna, Zoroastro, Fo Hi e etc. Outrossim, havia na casa um líder sentado em um trono dourado cuja veneração do agrupamento era superior aos dos acima citados mestres. Ajoelhados, os adeptos choravam de emoção a cada movimento e palavra do dito líder. A palavra de ordem era “desapego material”. Na parte exterior encontravam-se alguns carros de luxo, cuja propriedade pertencia ao líder do agrupamento. Logo à frente da casa, uma loja comercial com itens personalizados contendo o rosto do líder da casa, tais como camisas, chaveiros, chapéus, anéis, quadros, cordões, pequenas estátuas, porta retrato e outras mais. Chamou a atenção do aprendiz o fato das mulheres parecerem mais aplicadas nos ensinamentos, pois o mencionado líder estava sempre cercado por belíssimas jovens de aproximadamente 20 a 25 anos. Terminado os ensinamentos, faziam-lhe massagens nos pés e nos ombros – o líder premiava os mais esforçados, geralmente as mulheres, disse um fervoroso adepto. Movido pela forte emoção coletiva das palavras daquele incrível líder e sentindo-se liberto de todos os males do planeta, surge o pegajoso “mamom” mental e o intui: “vosso lugar é morando aqui, abandone tudo e siga este líder permanentemente. Ele libertar-te-á “
O sexto convite fadou-se a uma casa cristã que se diziam receber sob transe espíritos de ameríndios, idosos de origem africana e crianças. Fora Recepcionado por um agradável odor de combustão vegetal e batidas de tambores que “martelavam” e desequilibravam o labirinto da sua orelha. Os adeptos dançavam coreograficamente perante a marcha dos tambores e alguns até rodopiavam. Os trajes eram extravagantes, variavam de cor e alguns usavam penachos, cocares, colares e até tembetá. Existiam charutos, velas, enormes estátuas.
A casa era grande e a arquitetura bem colorida, parecendo uma “salada de frutas”. Algumas pessoas iam conversar com os policromados adeptos em transe, todavia devido aos ruídos não conseguiam escutar – o iniciando escutou algo envolvendo simplicidade na maneira de ser como o senhor jesus cristo. Ficou um pouco confuso e distraído diante das alegorias ali existentes. Fato intrigante foi, num determinado momento em que os adeptos se vestiam com trajes negros e as adeptas com trajes sedutores, gritavam e cuspiam no chão, abraçavam-se, os olhos ficavam esbugalhados, alguns usavam capas pretas e tridentes nas mãos; bebiam destilados e falavam grosserias e obscenidades. Indagado, aduziu um membro da casa que se tratava de transes de espíritos de meretrizes, boêmios e ex soldados romanos que faziam as pessoas obter muito dinheiro, status na vida profissional e parceiros(as) para aventuras amorosas. Flertado e seduzido por uma das adeptas em transe, entusiasmou-se o iniciando. Surgindo Mamom em sua mente, resoluto disse: “este é seu lugar. A vida é alegria, dança e carnaval. Conseguirás dinheiro e mulheres. Cuidado, poste os pés, e ao evadir-te serás castigado e surrado por vossos ancestrais”
Já exausto o indeciso iniciando retorna ao seu fatídico cotidiano. Na biblioteca de sua universidade reencontra um antigo e intelectual amigo; aproveita a oportunidade e desabafa sobre sua jornada em busca de sacramentar de vez seu despertar consciencial aparado pelas leis de Deus. O antigo amigo firme em suas convicções diz ter encontrado seu caminho na religião da verdadeira casa esotérica. Frisou que o iniciando visitou casas fajutas, sem “magia esotérica e secretos conhecimentos” que somente um verdadeiro “escolhido” teria. A casa era enorme, sofisticada e com “glamour” (charmosa), limpa, bem organizada, com muitas regras, e usava-se coloração com sentidos ocultos. Disse que diferentemente das outras ordinárias casas, seu tutor era a reencarnação de um sacerdote egípcio conhecedor das sete chaves das sete portas do universo. Corrobora que, além disso, seu mestre era um distinto intelectual e seus discípulos diplomados na vida acadêmica, ao contrário dos outros locais, repletos de iletrados – segundo ele, iletrados são incapazes de adquirir conhecimentos ocultos! Adverte que tornar-se membro não é para qualquer um.
O iniciando se encanta com aquelas palavras e se recorda que de acordo com as antigas escrituras orientais Jesus era um incomparável esotérico. Mas como bom estudioso teórico vai pesquisar antes de ir a esta supramencionada casa. Faz uma vasta pesquisa literária a fim de buscar conhecimentos sobre as informações que coletou de seu amigo. Encontra uma coletânea de décadas atrás com maravilhosos conhecimentos que unia todas as virtudes do Cristo, em especial simplicidade, humildade e pureza. Havia nesses livros belíssimos fundamentos esotéricos e astrológicos. Passou a investigar o mestre das coletâneas e viu que era um homem modesto, simplório e discreto, com trajes simples e uma pequena casa que atendia os necessitados (ficavam quase que prensados, como salsicha no pão de cachorro quente), distante da sofisticação. Surge o imponente “Mamom” oferecendo um instigante e charmoso raciocínio ao iniciando, que aduz: “se este simples mestre tem tanto conhecimento e cristandade, imagine o distinto intelectual e imponente mestre de seu amigo? estás a pensar corretamente! “
Não entraremos nos detalhes da sétima e última casa citada pelo glamouroso amigo do candidato a neófito, porque o “alimento” dela já lhe fora apresentado pelo primeiro. Então indaga-se, nobilíssimo leitor, o que de fato na prática lhe foi oferecido como “alimento” de Deus a este fictício candidato a discípulo do Cristo?
Em uma visão desapaixonada, qual seria a probabilidade deste aprendiz sucumbir e ser derrotado em sua jornada?
Qual a probabilidade de ele se “intoxicar” com os deslumbres de “mamom” nesta caminhada?
Qual a probabilidade de ele ser induzido ao erro?
Qual a probabilidade de ele se tornar um fanático?
Qual a probabilidade de se tornar um vazio e um altivo vaidoso?
Qual a probabilidade de achar-se exclusivo nesta “colmeia” terrestre?
Qual a probabilidade de ele se preocupar mais em limpar sua casa, ao invés de seu próprio coração?
Qual a probabilidade de ele se distrair fazendo manutenção no palacete do qual é adepto, ao invés da manutenção da evolucional essência de sua cristandade interior?
Qual a probabilidade de confundir amor, com paixão e sexismo(sexolatria)?
Qual a probabilidade de tornar-se um bajulador da vacuidade?
Qual a probabilidade de decepcionar-se, colocando Deus acompanhado a “Mamom”, subsistuindo-os?
Qual a probabilidade de declinar alavancando suas más tendências (que no princípio estavam até adormecidas)?
Onde isso tudo se encaixa nos exemplos e nas vidas dos grandes mensageiros de Deus?
Onde estão os montes das oliveiras e as grutas do cristianismo primitivo? Onde está a figueira do buda? A peregrinação de Francisco de Assis? A fraternidade de Confúcio? A compaixão de Chico Xavier?
Lembrando que estamos lidando com probabilística em um mundo de redenção, provas e expiações (somos muito endividados e aterrissamos neste planeta com muito mais má tendência do que boa).
Por favor, não cheguemos na sentença sofística de que isso significa que todo ambiente rústico, pobre materialmente e com iletrados terá luz e Jesus. Que fique bem explanado, somos imperfeitos e muito. Todavia necessitados de no mínimo, repito, mínimo, de sermos coesos com os princípios de Cristo – que tenha uma substância com nexo.
Então, caro leitor, use a imaginação para findar a saga do iniciando. Vencerá ou será derrotado? Servirá a Deus ou a Mamom? Será ludibriado ou verterá em um instrumento para difundir nobres verdades? Será um exemplo ou um mero orador sem pequenas obras?
E nós, onde nos banharemos? Nas águas das grutas de Jesus ou no vinho dos palácios de Mamom?
Katuabá.